A Psicanálise e o Pessimismo do Filosofo Luiz Pondé


A cura que é em parte, o curandeiro que não se curou. As fascinantes contradições do pai da psicanálise e seu pessimismo.

Nas pesquisas, objetivando, mais elementos para o segundo módulo, assisti os dois vídeos  sobre Freud jovem, na sequência, depois, vi também,  no YouTube, do canal Casa do Saber, o filósofo Luiz Felipe Pondé: Sigmund Freud por Luiz Felipe Pondé.


Fui despertado para a percepção do Pondé sobre a leitura de Freud, a partir da psicanálise, é muito pessimista. Não há cura, não há escapatória para a humanidade. A psicanálise é apenas uma amenizadora das doenças do psique.

Percebendo a pertinência do rumo tomado pelo filosofo entrevistado com o segundo módulo de nosso curso, inclusive expondo sobre a neurociência, neurofisiologia, neurobiologia... e a aproximação destas ciências com a psicanálise (quem diria), resolvi trabalhar esta redação, tendo como eixo, principal o pessimismo e ou realismo do Pondé, segundo ele concordando com Sigmund Freud. Vendo a psicanálise não como uma solução definitiva, mas como uma luz para o autoconhecimento, trazendo como resultado mecanismo de ajuda para uma solução definitiva, mas para uma amenização e, sendo otimista, um redirecionamento, as vezes positivo, quando das descobertas das doenças da mente para algo mais construtivo.

Freud antevia que um dia a ciência iria encontrar a ‘feiticeira’, uma alusão a falta de base cientifica das suas teorias quanto ao inconsciente, o lado escuro, a neurociência já está se aproximando deste caminho, caminho este próprio da psicanálise.

Tudo leva a crer que Freud era tão pessimista, quanto a humanidade, como Schopenhauer e Nietsche. O primeiro explicitamente influenciador de Freus.

Oswaldo Giacóia, filósofo, faz um paralelo entre os pensamentos de Friedrich Nietzsche e Sigmund Freud levando em conta a ênfase que ambos dão ao que “está por trás da capa”, do aparente, o eu verdadeiro. E, Freud se aproxima da filosofia schopenhaueriana quando ambos concordam e convergem acerca dos impulsos inconscientes na gênese da ação humana, na importância da sexualidade na estruturação da psique, dentre outros aspectos correlatos1 .

A investigação, em suma, deles é acerca do que está por trás das exteriorizações humanas, que acordo tácito é este?

Pondé ainda em sua exposição, foi trouxe um dilema possível, assim expresso: “Se descubro as minhas doenças mentais e sei da incapacidade de curá-las não piorará a minha situação? Por que mexer no que está quieto? “Deixemos os escorpiões na escuridão, eles não atacarão se não forem descoberto” Alusão a um médico e professor de Freud questionando o objeto da investigação do mesmo.  Depois este mesmo médico rever sua crítica, ao constatar o fato dos pacientes que sofriam de histerias estavam  na escuridão e que ele estava sendo hipócrita, estimulando a Freud no continuar com seus estudo.2

Uma das atitudes fundamentais do Freud na estruturação inicial da psicanálise foi o se autoanalisar. A parti de sua auto percepção, mesmo que, em alguns momentos, questionou, como escreveu Yeda Alcide Saigh: Que Freud pois em dúvida a legitimidade da auto-análise, em alguns momentos afirmou ser totalmente impossível, pois se fosse possível não haveria a neurose.

Ela ainda escreveu, argumentos acerca da defesa de Freud sobre a auto-análise de que os sonhos, atos falhos e chistes são elementos fundamentais na sua auto-análise e que a mesma é continua sem fim. 3  

Para o psicanalista, penso eu, é muito importante não só ser analisado, como a auto-análise. Sou humano e se me conheço melhor posso conhecer o outro humano melhor. Posso projetar a partir de mim no outro, sempre existe similaridades, um padrão de ser comum a todos.

Ainda na exposição do Pondé Freud identificou os nosso fantasmas lá no inconsciente e trabalhou como controla-los e/ou como conviver com eles. Freud mexeu com o lado escuro, com aquilo que todo mundo sofre, mas ninguém que falar, o acordo tácito no inconsciente coletivo.

Aí vem, dentre outras propostas de minimização do sintoma, a sublimação, sendo criativo, pegando os traumas e redirecionando-os para uma proposta se não útil, que seja menos nociva.

Ocorreu-me, talvez de forma imprecisa, a reação bem humorada de nós brasileiros às tragédias. Quando conseguimos fazer humor de nossas dores é um bom sinal; quando conseguimos escrever um livro sobre nossas dores pode ser um avanço(?), Freud que o diga, evidência de superação.

Pondé aponta para o pessimismo freudiano, quanto a cura, em uma de suas frases “Se eu conseguir pegar um paciente em sofrimento e resgatá-lo a motivação, ao amor e ao trabalho, já estarei satisfeito.”  Freud não acreditava em restauração completa. Ele já se satisfazia com a pessoa tratada atingindo o razoavelmente normal, o que para ele era muito difícil. Na psicanálise a probabilidade de erro é muito maior que de acerto segundo o mesmo.

A constatação da enfermidade na mente sem possibilidade de cura total leva-nos a busca do minimizar apontando uma quase resignação. Contudo, é um avanço o fato de perceber e admitir a doença em si mesmo, não significando que a cura completa virá, mas significando que pode ser gerado mecanismo de superação, de vigílias, de controle.

O auto conhecer-se, contudo, tem seus riscos. Conhecer os monstros interiores podem ser perigosos para alguns.

Freud afirma que a doença pode ser identificada, mas não extirpada. Pondé cita o exemplo de uma pessoa que consegue entender a razão porque tem medo do escuro e supera a fobia, mas, normalmente surge uma outra fobia, como se mesmo identificado o mal, pode haver a libertação de um sintoma, mas surgirá outro. Ou seja o mal é irreversível, mas os sintomas podem ser minimizados, sublimados.

Sobre o pessimismo de Pondé, segundo ele, inspirado no pessimismo de Freud: “Não é próprio do ser humano ser certinho, ele não consegue sê-lo. Nem somo competentes para sermos animais nem para sermos humanos com o padrão ideal ético-social.”

O pessimismo talvez seja confundido com a constatação realista da natureza humana.

A psicanálise, contudo tem a sua validade no identificar as doenças, no propor escapes, contrapartidas, possibilitando as pessoas enfermas ferramentas de enfrentamento daquilo que às atormentam. Será?

Pedro Luis da Silva

prpedroibis@gmail.com

 

 

1.       A presença schopenhaueriana no pensamento de Freud - Jassanan Amoroso Dias Pastore

2.       Freud Al’me da alma – Análise do filme Freud Al’me da alma, da obra de Jean Paul Sartre

3.       A auto-análise 150 anos depois de Freud -  Yeda Alcide Saigh

 

 

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